(Paulo Roberto)
Parece que tudo está rodando.
Lá vem Diana com o maldito copinho de plástico.
Um comprimido vermelho pequenino entre as unhas bem feitas.
Um estalo. Minha cela está aberta.
Diana sorri.
Delicadamente abre minha boca.
Lá vem água. Lá vem bomba.
Os cavalinhos estão correndo na beira do rio.
O maior agora caiu e quebrou a pata.
Faz um barulho legal.
Ha ha
Eu quero pintar as espumas.
"Diana, me traga um pincel!"
Isso aqui está muito amarelado.
Lá vem Alberto.
Com mais um líquido esquisito dentro do frasco.
Agulha sorvendo veneno.
Minhas veias levando veneno.
"Olha, Alberto! Minhas veias estão roxas!"
É tudo mais bonito quando se tem cor, não é mesmo?
E lá está o cavalinho deitado sob o sol.
A pata já está melhor.
Ele pode continuar brincando com seus amiguinhos.
Ele é tão bonito...
Os campos são tão verdinhos.
"Por que eu tô preso, Seu Alberto?"
Eu queria ser um cavalo.
Um cavalo branco.
Queria poder correr por aquela grama. Tudinho.
Mas não queria quebrar minha pata.
Não sei porque eu tô aqui. Mas gosto daqui.
"Diana, onde está o pincel que te pedi?"
Meu cobertor é quentinho.
Minha cama é meio velha, mas é bem confortável.
Eu tenho uma roupa legal. Minhas mãos ficam nas costas.
O nó as vezes machuca um pouquinho, mas é legal!
Ah, gosto também do cabelo da Diana!
É um loiro bonito!
A boca dela é bonita também. Bem vermelha.
As unhas são bonitas também! Mas as unhas mudam de cor.
É tudo mais bonito quando se tem cor, não é mesmo?
Não são iguais as espumas. Estão sempre amareladas.
Mas eu queria estar lá fora.
As paredes, de noite, ainda me assustam.
Elas parecem chegar perto. Me olhar com o cantinho dos olhos.
"Alberto, onde está meu cabelo? Eu quero um cabelo igual o seu!"
Cavalinho, cavalinho, você pode vir me buscar?
Lá fora eu poderia correr na chuva.
Outro dia, eu lembro... Mamãe me levou pra brincar...
Um dia desses eu saio pra brincar.
"Cavalinho, me espera pra brincar comigo?"
Outro dia desses eu saio pra brincar...
"Diana, você tem um cavalo?"
