sábado, 18 de maio de 2013

Penúltimo Capítulo... O Sorriso da Calhandra.

(Paulo Roberto)

Aqui, outra vez, de joelhos nos trilhos enferrujados.
Maquiagem escorrendo até o peito, chuva ácida acariciando o rosto. 

Caindo, sangrando, despedaçado sobre o lago Cocite. 
Minha alma foi feita de retalhos dos pecadores famintos.
Meu corpo foi feito da lama dos pecadores enquanto Cérbero os esfolava.

A decadência começou quando acreditei nas tuas verdades.
A dor lambeu meus tornozelos quando o cansaço gargalhou.
E de novo, existem agulhas em meus olhos. 
Existem veias estouradas em meu coração,
Existe um pedaço de pedra tingido de verde pelo desgosto
Que ainda pulsa... Mas não existe esperança.

O trem das almas está correndo sobre o ferrugem e estou no primeiro vagão.
Eu vejo o trilho da destruição que o mundo causou em mim.
Eu vejo o brilho da dor naquela esfera arredondada que costumava ser a lua.
As estrelas não existem mais, vejo pontos de decepção.
...E pela primeira vez desde que meu choro correu aquelas paredes de cor clara,
Eu perdi a fé no mundo.

Eu não consigo sustentar o peso do egoísmo.
Eu não posso carregar a dor.
Não consigo virar as noites quando as mesmas não tem o cheiro do oceano.

Como posso sonhar se os sonhos são podados pelas mãos do homem?

-------------------------------------------------------------------------------------------------------

Preciso viver o que sonhei um dia.
Não sou nada, sou um pecador.

Eu fui formado por ideias, eu fui formado por sentimentos.
Fui laçado pelas artes abstratas quando descobri que minha abstração era uma arte.
Chorei com o som da primavera e sorri ao som do inverno mágico.

Ainda tenho vontade de beijar os pés da bailarina quando a mesma acaba de dançar.
Agradecer por tamanha graciosidade, ganhar um sorriso e mostrar-lhe que todo o esforço vale a pena.
...E ainda que carregada em meus braços, o brilho nos olhos nunca cessará.

Gritando, devorada pelo desejo.
Inerte sobre as escadas, mas ainda com sapatilhas. Ainda sorrindo...

Imagino.

Estou apaixonado por cada movimento, estou envolto pelo perfume.
Eu daria cada segundo de vida para sentir o calor de tua pele branca sobre mim.
Eu usaria teus sussurros para a ressurreição.
A redenção d'alma auto-destrutiva.

Ainda congelando sob a chuva eu imagino que o futuro seja diferente.
A estrada de pedras é densa e o nevoeiro é sujo como o inferno.
Mas a esperança corroeu o desespero e ainda me sinto vivo.

Existe uma linha extremamente fina entre a felicidade e a penumbra.
Existem cheiros extremamente agradáveis e odores pútridos e fétidos entre sorrisos e lágrimas.
Existem promessas e promessas...
Existem palavras forradas por mentiras.

domingo, 14 de abril de 2013

Grão

(Paulo Roberto)

Olhar vago, admirando a parede desenhada...
Veja meus sonhos pintados.

São só planos. Eu não vivo.

Eu vejo o brilho do papel sendo queimado.
Todos os passos da dança do meu coração...
Tudo é cinza, tudo é pó.

Oh, agora... Onde está a esperança agora?
Caia sobre minhas costas e me envolva.
Esperando sozinho, frio lambendo os ombros.
Eu deveria estar sorrindo com um copo gelado nas mãos.
Eu deveria ter lábios rolando por meu pescoço. 
Eu deveria pintar o teto e cantar para a manhã.
...Mas não tenho mais criatividade além do cansaço e das dores vãs

Estou morto para o ar fresco que corta os campos em vossas terras.
Estou caído numa cela imunda...
Tulipas entre as grades estão nascendo de dentro das cordas.
Ouço o mar contando piadas para a lua.
Ouço a lua compondo uma canção de ninar.
Ouço as estrelas aprendendo a melodia nova.
...O pobre vento me faz sofrer.

Não consigo mais contar às linhas que restam nesta página.
As lágrimas estão escorrendo pelas algemas.
Ainda inerte no chão...

Estarei semeando o grão da vida que você está plantando.





quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Âmago

(Paulo Roberto)

Eu tenho sido o galho quebrado numa floresta de glórias.
Eu sou o cetim de um exército de espadas e flechas.
Eu sou o gato calado em meio a leões famintos.
Eu sou o ser que dança no ritmo do ar.
Eu sou a melodia aveludada compondo tua canção de ninar.
Eu sou o grafite fino que desliza em teus dedos,
Eu sou a alma além do corpo que consegue ignorar.
Eu sou vida, beleza, caladas para o tormento
dos dias descoloridos que consegue pintar.

E se eu fosse uma lembrança?
Você pensaria em mim ao acordar?
Pensaria em nós antes de continuar?
Gelo sobre meus ombros...

E se eu fosse a lua?
Se não houvesse luz em mim?
...Se refletisse apenas o que me dá?
Sou o coração que ninguém ouve bater.

Sou o anjo que te carrega no colo.
Sou o grito que te faz perceber o erro.
Sou o amigo esquecido que ainda sorri.
Sou o leite, o pão e teu chão ao amanhecer.

Sou o ultimo da lista, o primeiro deixado para trás.
Sou teu olfato, tua atenção e condição.
Sou teus valores, tuas crenças e diversão.
Sou tudo que lhe é secundário, mas sou tudo que forma teu coração.

Sou calado, sentimental e desejo viver.
Sou tomado por medo, aflição e agonia quando ouço o silencio bater.
Sou formado por imaginação, amor e fé.
Sou a criança que precisa trabalhar, sou a criança que ainda quer ser feliz.