segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

61

(Paulo Roberto)

Quero teus lábios com sabor de vinho.
Quero teu corpo coberto por couro.
Quero tuas pernas grudadas em meu pescoço,
Quero teus suspiros quebrando o silêncio.
Quero tuas unhas sangrando minha alma,
Quero tuas mãos descobrindo o caminho.
Quero tua boca brincando com fogo,
Quero tua lingua alimentando meus sonhos.

Deixe-me trazê-la para perto, sinta minhas mãos e o desejo.
Deixe-me percorre-la sem destino, puxe-me outra vez e sorria.

Quero teus olhos fechados,
Quero tua cama molhada.
Quero teu coração pulando,
Mas preciso que continue pulando.
Quero tuas coxas marcadas
Quero meu cheiro nas paredes.
Quero lamber tua nuca
Quero ouvir teus segredos.

Deixe-me leva-la ao inferno, deixe-me fazê-la gritar.
Deixe-me mostrar-lhe o céu, abra as pernas e faça.
Deixe-me ditar o teu ritmo, dê-me as costas outra vez...
Deixe-me puxar teu cabelo até que teus olhos estejam escondidos.

domingo, 27 de novembro de 2011

Gotas De Dor

(Paulo Roberto)

Eu sou a rosa perfumada que te toca
O vento noturno que move teu olhar.
O cheiro doce que teu travesseiro tem,
O lírio entre os lobos,
O som do amor.

Você é o espinho do caule magro.
A dor da morte,
A figa da vida,
O pêssego envenenado.
Criança da lua,
Demônio amaldiçoado.

Leve-me para o inferno.
Gotas de dor em teus lábios.
Grite por prazer e morda minhas coxas.
Beba a vida e drene meu sangue.

Eu sou a chuva que corre
A vida tecida com agulhas ensangüentadas.
Eu sou o anjo que te acompanha,
Besta faminta, pobre criança.

Você é a dor, o tridente e o trono.
O Cálice de Vinho e o sino que nunca toca.
Maçã avermelhada, pele ferida.
Tarde sem fim.
A areia da ampulheta que nunca desce.

Leve-me para casa.
Lágrimas de dor em meus olhos.
Grito de pavor enquanto limpa minhas feridas.
Lamba minha pele e sugue meu calor.
Voando baixo, para o alto das montanhas.
Somos o som do mar e do leito.
Mãos amarradas e corpos colados.
Pulse comigo em cada coração vivo.

Grite comigo e sorrirei para ti.
Grite enquanto canto.
Case-se com a solidão e eu encontrarei a estrada.
Você será solitária como as gotas...
Um por um, um por um...
Deixe na memória o que eu fui.
Você rasgou meu peito fraco.
Deite-se sobre ele e ouça o silêncio.

Sou a beleza em cada olhar,
Tu és a dor em cada lágrima.
Somos a construção do tempo sobre um solo fértil.
Somos o céu noturno e o mar revolto.

Sou a besta que é consumida pela dor.
És o anjo que machuca minha alma.

domingo, 6 de novembro de 2011

Rastros De Linha

(Paulo Roberto)

Olhe para mim, senhorita.
O que sente?
Meu sorriso é retribuido com zelo.

Pisque teus olhos apenas mais uma vez.
Apenas mais uma vez...
Não deixe o sorriso morrer.

Mate-me antes que tua lágrima escorra.
Fere quem te dá tudo o que precisa ter.
Aqui está agulha e aqui está a linha.
Use-as para nos costurar.

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Fio por fio, você rasga o que costurou.
Você colhe de outro acre o que planetei em ti.

Você teve medo de se entregar, você teve medo do conforto dos meus braços.
Você teve medo do que meus lábios poderiam fazer,
Você teve medo do que meu toque poderia custar.
Você temia a angústia da perda... Mas você nunca teve nada.

Pensamentos regados de dor e desejo,
Fantasias maníacas com meu corpo a cada noite.
Rasgue minha carne outra vez, Inocência.
Você esqueceu minhas palavras, meu olhar e minha dor.
Atue como naquela tarde tão quente, em que teu vestido, grudado,
Era tão pesado quanto tua dúvida.
Decore um texto tão ridículo quanto aquele...
Teu lábio queima.

Queime todas as memórias.
Não existem fotos, apenas fatos.
Recolha os rastros de linha
Espetarei as agulhas em tua cruz.
Carregarei comigo o cheiro da inocência
E o sabor da desgraça.
Teu lábio queima.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Teu

(Paulo Roberto)

Sente minhas mãos tocando tua pele?
Sente o meu cheiro cobrindo o ar?
Meus lábios tocando teu rosto a cada segundo,
Teu sorriso iluminado refletido em meu olhar.

Sente o calor do meu corpo calado
Cobrindo a cor do luar?
Dançando entre as sombras duras,
Sonhando com o altar.

Durma, Minha Pequena, meus braços são teu lar.
Durma, Meu Amor... Sorria quando acordar.
Sonhe, Minha Linda, continuarei a te acariciar.
Desperte, Minha Vida... Para sempre irei te amar.

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Longe, além das nuvens e dos lagos escuros.
Enquanto dormimos, selados pela noite,
Nos encontramos, sedentos, mais um sonho.
Corremos pelos campos de linha, tecidos pelos pensamentos.
Dançamos ao som das vozes, dos sussuros de cada madrugada.
Saboreamos os frutos do desejo, as uvas da saudade
...as maçãs do amor.
Você me olha com o mesmo brilho, você me toca com o mesmo calor.
As unhas cravadas... relva molhada. Os dentes rasgando o que sempre foi teu.
A Marca dos teus sonhos no peito que pulsa, a vida que marcha nas veias do teu anjo.
Carregue-me em tuas mãos para teu colo abençoado,
Sorria e perfume meu coração que grita dentro de ti.

...Abra os olhos.
São meus beijos!

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Sorrindo você me olha, me acalma...
Mais um dia que nasceu para te fazer rainha.
Abrace-me e sinta, tudo é teu.
Te darei a eternidade, minhas asas... A proteção e dedicação.
Procure pela beleza que existe dentro de mim.
Encontre nas palavras os desejos de um sonhador...
Tente ver que minha vida está no teu amor.

domingo, 11 de setembro de 2011

Querida Amiga

(Paulo Roberto)

Quando acordar sem saber o que fazer,
Apenas grite e irei te socorrer!
Estou aqui para não te deixar cair.

A todo tempo, qualquer momento...
Irei ao inferno para te fazer sorrir.
Apenas ande e iluminarei a estrada.

É minha luz, raio que me guia.
Ombro delicado que aguenta o peso de minhas dores.
A pétala mais bela d'um jardim encabulado e fechado.

Estou aqui, querida amiga.
Estou aqui para aplaudir os teus feitos,
Para encorajar as loucuras,
Curar os medos e te fazer sorrir.

É só correr, estou aqui, surgindo.
É só olhar e sentir tudo o que temos.
Lembre-se de todos os momentos difíceis...

Sorria agora, já é passado.

Então me diga, queria...
Do que você precisa hoje?

Abrace-me quando precisar de coragem.
Abrace-me quando conseguir vencer.
Então me diga, queria...
Como imagina o meu abraço?

Estou aqui, querida amiga.
Estou aqui para te ajudar a crescer!
Para ajudar a curar todas as dores da vida.
Para subir cada degrau...

É só correr, estou aqui, surgindo.
É só olhar e sentir tudo o que temos.
Lembre-se de todos os momentos difíceis...
Sorria, tudo é apenas passado.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ponteiro

(Paulo Roberto)

Você acorda e sente o sol no rosto.
O "Tic-tac" canta enquanto você está molhado.
Você se veste enquanto as vozes gritam.
O ponteiro está te seguindo desde o começo.

Sentado você abaixa a cabeça.
Lá vem Segundo, correndo por cima.
A cada som um novo presente.
A cada deixa um velho passado.

Corra, menino louco!
O Sr. Minuto está vindo pelo meio!
Ele te faz ficar com os olhos vidrados no relógio.
Ele te move lentamente, aperta teu pescoço.
Corra sonhando acordado.
O Sr. Segundo ainda te atormenta.
Cada som é um pedaço de ti.
Soa como uma moeda jogada no lago.

Deixe o ponteiro menor sacudir tua cabeça.
Deixe o frio abraçar teu calor.
Deite e durma para que o jogo recomece.
Tenha fé, menino louco.

A espera sempre tem um fim.
...O fim sempre é bom.



quinta-feira, 14 de julho de 2011

Dora

(Paulo Roberto)

Era fim de tarde, o frio estava querendo invadir os prados e eriçar os pelos dos animais. As corujas já estavam vigiando a entrada do bosque e as cobras estavam amaciando a grama. Os preás correndo loucamente em busca de comida enquanto a montanha pairava assustadoramente quieta. Tuba, a pequena rata, jamais teve coragem de subir além da 6ª rocha. Algumas lendas rondavam a montanha. Ali em cima, eram poucos os animais. Raposas, lobos, tigres, veados... Todos mais fortes, maiores e, sem dúvida, mais famintos. Qualquer coisa quente que pudesse explodir na boca e dar prazer com o sabor de nervos e ossos sendo retorcidos era válido. O fato é que, na verdade, todos os lindos animais que viviam ali tinham medo d'O Lobo. Ele era o único animal que descia das montanhas para buscar comida (Os outros apenas saciavam a sede no lago do outro lado do vale). Mesmo no rigoroso inverno, em que as pradarias rochosas se tornavam vastos campos invisíveis, os animais ficavam todos por lá. Famintos, sedentos, malditos. Mas ele, ele não. Não tinha orgulho. Era um bicho que sempre tinha a fera entre as garras, a besta entre as presas e a visão do inferno no olhar. Os pelos eram negros como os lábios da noite, macios como a carne do oráculo e fediam como abutres dissecados. Estava dormindo. Sonhava com um dragão. Esse sempre foi o único medo d'O Lobo. Não suportava a ideia de que alguém poderia ser mais forte e mais temido. No fim das contas ele só queria amor. Só queria amar... só queria poder amar. O coração estava cheio de dor e quase não batia. Apenas um lapso de “auto-compaixão” o deixava vivo. Estava respirando devagar. O ar da noite era seu preferido.

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Imagine, por favor, o barulho de um casulo explodindo. Agora, ajeite-se, sente-se confortavelmente e imagine uma linda borboleta azul voando perto de você. Imagine que o cheiro agora é o melhor do mundo. Imagine que um abraço te envolve enquanto tuas dores são extintas. Imagine Sarah. Suas asas eram lindas. Sabia que tinha pouquíssimo tempo de vida e não queria ser como todas as outras borboletas. Tinha algo a fazer ali. Voou alto. Muito alto. No meio de sua subida, sorriu. Avistou uma jovem raposa. Era fabulosa! Algo ali exalava alegria, o semblante despreocupado era fascinante! Brincava com folhas secas que alcançavam voo a cada pulo. Era tão bobo...
É difícil definir Dora. Extremamente difícil. A primeira vista, parecia mais uma raposa. Mais uma entre as tantas. Não era grande, não era assustadora e muito menos perigosa. Era simplesmente apaixonante. Era como uma rosa vermelha cheia de vida entre os lírios secos, surrados pelo tempo e abandonados por Deus. Era a luz que mais brilhava entre os vaga-lumes. Sarah apenas admirava. Quando ainda rastejava, ouviu todas as estórias malditas sobre O Lobo. Sabia que algo tinha de mudar para que o medo não fosse tão constante e que o receio não fosse o sentimento que mais abraçava os animais. Dora não era apenas um pedaço de carne, uma raposa exposta ou uma presa fácil para qualquer bicho maior. Dora era, em sua visão, a salvação do mundo. Ou de seu mundo, pelo menos.

O fato é que, se você tivesse apenas mais algumas horas de vida, o que faria?

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Uivou. Era incomum fazer isso pela manhã, mas o sol lhe energizava. Queria apenas lembrar aos ouvintes que o seu reinado era intocável. Esgueirou-se para uma fenda estreita onde jaziam os restos de um veado. Ainda tinha carne, seria a primeira refeição do dia.
A bocarra se cansou de morder, então O Lobo resolveu se deleitar com o medo nas feições das criaturas inferiores a ele. Metro por metro, foi descendo calmamente a montanha. As nuvens eram atravessadas com um certo ar jovial. Não sabia exatamente o motivo, mas sempre foi apaixonado pelas nuvens. Elas faziam o coração bater, assim como a Lua. Pena que não podia atravessar a Lua... Estava longe.

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Dora estagnou. Ouviu o urro da besta. Sarah farfalhou as asas e continuou calma, não havia motivos para pânico.

- Borboletas não devem ter um sabor tão bom, né?
- Você também ouviu? - Disse Dora com os olhos molhados
- Sim, acalme-se. Ele não fará nada contra você...
- ...e como sabe... erm... qual o seu nome mesmo?
- Sarah, minha cara raposa.
- Dora! Meu nome é Dora! - Incrível o que a inocência evoca numa raposa– O que faz aqui, tão alto? As borboletas não sobem tanto! Eu nunca vi uma por aqui!
- Vim procurar a salvação. Não para mim, não para nós... Mas para todos.
- Oi? - Disse virando o pescoço para a esquerda.
- Deixe-me explicar. Você, Dora... Você é especial. Basta observá-la por um tempo e olhar mais a fundo do que os olhos podem ver. Além dos pelos avermelhados, além do focinho negro e das orelhas. Dentro de toda essa pele, além dos músculos, além das veias e ossos, existe um coração pequenino e puro. Um coração que pode fazer grandes coisas em grandes bichos. Um coração que, dentro d'O Lobo, pode mudar tudo.

A perplexidade nos olhos de Dora era notável. Do que raios aquela linda borboleta falava? Sentia-se estranha. Como se o chão de pedra estivesse sumido e estivesse agora sobre o Éden. Sentia-se forte, o medo não existia como antes.

- Consegue me explicar melhor?
- Desça.
- Descer...?
- Desça a montanha, brinque com os ratos, corra com as lebres, dance com os macacos e role com as cobras. Todos temem o que há aqui em cima, mas você pode dar a eles a segurança e a paz que precisam! Se todos os animais descerem, o que será d'O Lobo? Apenas um animal morto por seu próprio rancor.

A inocência brilhou e ela aceitou o convite. Morria de curiosidade para conhecer aquela parte do mundo. Não sabia como era o bosque, só conhecia o outro lado da fenda. O lago azul era tudo que tinha visto da parte baixa da vida. Era estranho começar a descer pelo outro lado. Rochas enormes estavam pelo caminho. Só então notou o quão alto era o seu lar. Via algumas árvores, uma mar de verde. Uma cor diferente aqui, outra ali... Rosa e amarelo para quebrar a monotonia de toda aquela paisagem surreal e desconhecida por ela. Conseguiu contar, por auto, umas vinte rochas gigantescas por todo o caminho. Passou por vários animais, os guepardos urravam loucamente, incrédulos do que estavam vendo. Uma raposa, tão bela, tão pequena, tão frágil... Estava quebrando barreiras, estava alterando o ciclo, estava quebrando as regras. Faltava pouco. Sentiu o cheiro das frutas, ouviu os chocalhos das serpentes e se apaixonou pela melodia do cantos dos rouxinóis. Finalmente, tocou a grama. Finalmente conheceu o Éden.

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Alvoroço. Os animais estavam desnorteados, não sabiam mais o que fazer. Dora estava lá em baixo! As raposas começaram a uivar, um choro desesperado e confuso. Os bichos estavam correndo em círculos, não sabiam que caminho tomar. Em meio a urros e grunhidos desesperados, uma das raposas mais velhas decidiu descer. O semblante animalesco de todos os animais não existia. Estavam todos receosos e confusos. Numa marcha lenta e desencorajada, decidiram seguir. Decidiram descer, decidiram enfrentar A Besta, decidiram enfrentar a morte e todos os medos que acompanharam suas almas durante toda a vida. Era hora de lutar pela liberdade.

Enquanto isso, Dora estava maravilhada. Aquele era o melhor ambiente que já tinha visto. Os animais eram livres, os cheiros se misturavam e a leveza do ar apenas limpavam a alma. Eram tantos bichos, tantas plantas, tantas vidas, tanta luz, tantos sons... Barulho. Num súbito reflexo olhou para cima. Uma sombra horripilante se aproximava. Era como se todos os habitantes do alto da montanha estivessem descendo. Sarah sorriu. Tinha conseguido! Os olhos assustados e brilhantes eram bonitos de se ver. Tinham um brilho diferente. Um a um, tocaram o solo fofo. As raposas correram para pular em Dora. Era uma festa. Todos as outras especies começaram a olhar em volta. Que mundo era aquele? Era tudo tão belo! Começaram a se espalhar. Um a um, adentrando a mata, observando animais que, até então, eram estranhos. Em meio a brados de satisfação e sensação de liberdade, Sarah notou o espectro da Besta. O arrepio percorreu as entranhas de todos que olharam para cima. O cheiro de morte inundando o olfato, a visão do Inferno.

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Sentia-se bem. Havia algo errado. O silêncio lhe assustava, mas... por algum motivo, sentia-se diferente aquela manhã. Era como se o coração fizesse o mesmo som que fizera a muitos anos. Aquele som doce, ritmado e contínuo. Sentia o coração bater, sentia um arrepio a cada passo. Os pensamentos vagavam pelo lago, memórias de sua parceira morta por veneno e teimosia.
Estagnou. Não podia crer. Agora sim, sentia o coração lutar contra o peito. Estava com medo.
Olhou nos olhos de cada um, viu medo e coragem numa mescla de confusões. Ele estava confuso, estava com medo, estava incrédulo.

- O que fazem aqui? - Mesmo abalado, urrou como um trovão – Vocês sabem das regras, vocês sabem das MINHAS regras. Respondam, amigos. O que estão fazendo aqui?
- Olhe a sua volta, caro amigo. Você é um de nós. Não é nada além disso, Lobo! - Disse Sarah com sua voz aguda e calma – Tudo o que você diz ter, nós também temos!

Aquiesceu. Com lágrimas nos olhos, mas ainda firme, urrou para o mundo. Dora aproximou-se rapidamente. Nunca tinha visto O Lobo. A curiosidade maldita da pequena raposa lhe drenava a paz.
- Eu protejo vocês de todas as dores. Eu protejo vocês de todas as maldições dessa parte do vale. Minha parceira morreu aqui, enquanto todos esses bichos ridículos brincavam durante o verão. A dor que eu senti... Ninguém mais vai sentir. Lá em cima estão seguros. Não existem mosquitos do inferno, não existem aranhas e poucas são as cobras que se aventuram tão alto. E, lembrem-se, elas não possuem veneno. Aqui todo tipo de bicho maldito e peçonhento pode percorrer os corpos dos teus filhotes, os corpos de vocês! Fora que existem humanos aqui perto. Aquela maldita raça... A escolha é de vocês! Eu venho, como e volto. Façam o que tiverem de fazer. Nunca precisei de vocês. No fim das contas são vocês que precisam de mim.

Quando se preparava para seguir, ouviu-se um “Obrigado, Lobo”. O animal virou-se perplexo. Dora aproximou-se novamente.
- Obrigado. Apesar de tudo... suas intenções sempre foram boas. Mas não deixe de viver por isso. Não deixe de viver por medo. Você sempre se mostrou tão forte! Não viva isolado do mundo, longe dos outros lobos, dos outros animais... Longe da Vida! Fique conosco! Seja parte da grande família que somos. Seja parte do coletivo! Junto de todos você estará muito mais protegidos e nós teremos confiança para seguir progredindo. Veja, eu não sou uma raposa muito forte, muito grande ou nada disso. Mas eu consigo olhar pra você e ver que algo está faltando. Falta uma família. Falta amizade, falta amor! Lobo, você não precisa ser ruim, você não precisa comandar todas as espécies, você só precisa viver! Olha pra mim! Eu sou pequena, não me preocupo com nada e sou feliz! Você deveria viver mais e sofrer menos. Fique e nós o ajudaremos!

Lágrimas, dor, arrependimento, solidão, confusão... Tudo junto. O Lobo não sabia o que dizer. Só sabia que não voltaria para o alto da montanha. Sua casa não ficava além das nuvens. Tudo estava começando a ficar diferente. Conseguia enxergar as cores, conseguia ouvir o coração, conseguia apaziguar a alma. Bendita Dora. As palavras ditas ardiam no peito. A cada letra, um aperto. Era como um banho de culpa, o golpe de misericórdia.
- Eu fico. Eu fico!
Todos os animais bradaram, era como uma vitória sobre o arque inimigo. Agora eles poderiam ser livres e com a presença da Fera. Tinham até um certo carinho por ele... Afinal de contas, tudo fazia sentido. Dora mostrou ao mundo que foi um erro nobre. A intenção era a melhor possível. A execução, a pior. O perdão faz parte da vida, recomeçar as vezes é a melhor saída... E lá estava Sarah...

~~~~~~~~~

O véu da noite estava sobre os ombros do céu. A Lua era cheia e poucas nuvens vigiavam o vale. Estavam todos dormindo. Sarah levantou voo. As asas pararam de responder, a respiração falhou e a brisa lhe soprou aos ouvidos a marcha fúnebre da vida. O manto da morte lhe cobriu, seu corpo inerte desabou sobre a terra. A chuva caiu.
Havia conseguido tudo. Dora mudou o mundo. Ou pelo menos... Seu mundo. A paz governará esta terra sem reis enquanto Dora manter o espírito. Não se trata de aparência, é puro sentimento. Pura fé. Você só precisa de você.

...E o que faria se tivesse apenas algumas horas de vida?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Espelho

(Paulo Roberto)

Seu cálice cheio sobre a cômoda...
Você tira meu vestido com zelo e desejo.
Toca minha carne, inala meu perfume.
Acaricia minha face delicada,
A cor dos meus olhos te derruba.
Meu sorriso acelera teu coração enquanto minhas mãos te arrepiam.
Meus sussurros te fascinam e meus lábios te aquecem.
Posso prendê-lo com os olhos nessa cama toda a noite.

Você sente algo louco e fixo por minhas pernas,
Eu brinco com teus lábios enquanto você fantasia com meu corpo.
Tuas mãos sempre procuram o que o desejo assopra nos ouvidos,
Tua mente, louca mente, sempre cria quando te toco.

Eu sei que sente meu cheiro quando acorda.
Sei que deseja meu calor quando o frio te corta os sonhos,
Sei que sonha com o futuro, com um pequeno número ímpar.
Sei que fará tudo para que nossos dias sejam únicos.

Você não esquece da minha voz e repete mentalmente:
"Tudo o que eu preciso é ter você comigo."
Meu abraço é teu bem mais valioso,
Meu amor é como um filho que carregas dentro do peito.

Sei que me ama e que nada te fará mudar,
Sei que acredita no futuro, sei que não vai hesitar.
Sentirás saudades de sorrir bobamente todas as noites...
...Mas sei que estará lá quando eu finalmente puder voltar.

domingo, 26 de junho de 2011

Carne Para A Rainha

Já tocou mais alto para não ouvir o que teu coração dizia?
Tente colocar os fones agora, você não quer ouvir teus gritos.
Minha música é tão doce e teu olhar é tão vazio...
Não precisa procurar, docinho, não existe ninguém além de mim.

Deixe-me lamber tua orelha e sangrar teu peito pardo?
Meu cabelo irá te sufocar até que o manto te carregue.
Peça para o pai, o cão ou para que alguma alma te ajude,
Você vai precisar de um novo corpo, esse é meu retalho.

Brinque com teus medos,
Sorria com a dor.
Continue mentindo enquanto masturbo tua memória.
Ora, meu amigo, não era melhor que eu?
Deixe que teu sangue lave o corpo que já morreu.

Veia-por-veia, músculo-por-músculo e ainda é tão macio!
Não posso parar até que possa ver a luz do outro lado.
Não grite, amor. Ouça minha música tocar mais alto.
Você escreveu a melodia enquanto eu estava no teu colo.

Por que está tão calado e com o olhar tão fixo?
Já está vagando solto pelos mares do demônio?
Ainda tem tanta carne! você não sabe mesmo brincar...
Vou arrancar tuas coxas para ter algo no jantar.

Diga para tua mãe que eu mandei um "Oi".
Pergunte ao seu pai se ele se lembra do meu cheiro...
Não minta no inferno, eles não irão te perdoar.
Não serão só facadas, a eternidade irá te castigar.

sábado, 11 de junho de 2011

O Fardo

Silêncio. Pablo não conseguia dormir. Lembrou-se dos olhos de sua ultima vítima. O "pobre" Damião tinha agora uma bala no meio da testa fofa. Era isso que fazia. Matava quem matava, matava quem roubava e matará quem merecer a morte. Levantou-se, a sede e o calor estavam judiando do corpo forte. Tinha músculos avantajados e um ar poderoso. Assustava muita gente com o olhar. Era famoso. Todos sabiam que ele existia, todos os que tinham alguma dívida o temiam, todos os que deviam pagavam em suas mãos. Sempre pareceu forte, mas a verdade é que sempre foi o mais frágil e fraco dos homens. O passado sempre lhe assombrou. Estava zonzo com os pensamentos. O celular tocou. Seguiu calmamente até o quarto. Olhou a pequena tela e...
- Raul?
- Sim, meu rapaz. Lembra do Senador?
- Ah, claro...
- Sabe onde ele está, não sabe?
- Não tenho ideia, na verdade.
- Bem perto de ti. Uma das empresas dele está num negócio milionário. Foi pessoalmente ver como estão as coisas.
- Acho que ele vai ficar por aqui então.
- De fato... Por isso resolvi ligar tão cedo.
- Cedo? - Sorri - Eu cheguei a pouco. Lembra do Damião? Já foi.
- Grande notícia! Menos um para correr atrás. O governo pressiona a Polícia mas não faz nada pra ajudar. Muito bem, meu rapaz. Continue assim e não teremos motivo para prendê-lo. Afinal de contas... você tem cooperado muito.
- A ideia de visitar a cadeia não me agrada, Coronel.
- Sim, sim. Sabemos disso. Portanto, dê um jeito no Senador e ficaremos felizes. Ah, você também ficará quando olhar sua conta bancária!
- Onde acho o safado?
- A empresa está negociando com um shopping da Zona Sul. Eles marcaram uma reunião no Hilton. Aquele perto da...
- Sei onde é. Isso é tudo?
- Sim. Arranque a cabeça dele.
- Boa noite, Coronel.

Silêncio novamente. Olhou o relógio, 05:23. Puxou a cortina e viu o céu escuro. O frio era intenso. Sentiu um arrepio quando abriu a janela para respirar o ar do dia. Segunda-feira. Passou todo o domingo dormindo. Sabia que tinha uma cabeça para explodir durante a noite.
Dessa vez seria diferente. Não teria descanso. O fato é que a polícia precisava se livrar do tal Senador. Ele sabia de muita coisa, tinha muitos nomes e até Raul ficava de quatro na frente do velho para que ele não revelasse os crimes do Coronel. Fora que lavar dinheiro era seu esporte favorito. Dessa vez, deveria ter cautela. É bem diferente matar um traficante que comanda algumas bocas e matar um cara que todo mundo sabe quem é. Bem... Era, na cabeça dele. Lembrou-se da primeira vez que matou. Por isso estava naquela vida. Sentou-se no chão e deixou que as lágrimas pintassem o rosto com o líquido transparente que lhe vazava pelos olhos. Não tinha medo de matar. Tinha medo de morrer. Viu o reflexo no espelho e sorriu. Sempre chorou mais do que deveria... O cabelo estava bagunçado, mas parecia bem. Puxou a toalha da cadeira e correu para o banho.

O Céu estava claro e, acredite, a Marginal livre. Os falantes cuspiam Deep Purple num volume considerável. O sol resolveu aparecer por entre as nuvens, mas o frio ainda castigava. Sorriu quando viu a Otávio Frias. Estava perto. Não seria fácil matar um senador, a comitiva do safado tinha mais gente do que tem agora no puteiro em que a mãe dele trabalhou. Viu dois carros com os vidros totalmente escuros aparecerem na esquina. Era a deixa. Era ele.
Adentrou o hotel e pegou um copinho d'água. Mataria sem pena, seria justo. Olhou para a moça atrás do balcão. Uma linda loira com um uniforme infeliz, escondendo todas as curvas. Pena. Mataria qualquer um, desde que a recompensa fosse a cama dela. Tirou a pistola do coldre e olhou para os lindos olhos azuis da moça. Sorriu e seguiu para o salão de convenções. Tinha um trabalho a fazer. Dois guardas estavam na porta, mas sabia como resolver. Tirou dois maços com notas e notas do bolso.
- Hey, um pra cada um! Só preciso entrar...

Dois armários de preto, sorrindo... Não é uma cena muito comum. Entrou tranquilamente e sentou-se na cadeira da ponta. Os homens não entenderam nada. "Quem é esse cara?"
- Senhores, o Senador pediu para que a reunião aconteça na sala ao lado. Parece que o projetor desta está quebrado...

Os homens se entreolharam e aquiesceram. Um a um, saíram da sala. Pablo se sentou na cadeira da ponta, de frente para a porta e esperou. Depois de alguns minutos, um estralo. A porta. Lá estava ele, junto ao advogado. Não exitou. O primeiro já estava no chão.
- Opa, Opa! Pode ficar quietinho ai, meu amigo -Disse apontando a arma para a careca da futura vítima.
- O que é isso? Você...?
- Sim. Sim, eu sei. E é exatamente por saber que eu estou aqui. Lembra do Coronel Raul? Ele me mandou aqui. Você sabe o que fez, você sabe o que vim fazer. Algum pedido?
- Do que porra você está falando, cidadão?
- Oh, isso não é pose de Senador. Eu mato para viver e você rouba por pura luxúria. Eu mato para comer e você come com a porra do meu dinheiro. Eu vivo para matar e você vive para sangrar corações de pessoas que venderiam a alma por um lugar ao sol. Olhe em meus olhos, Caro Amigo. Será a ultima visão de tua vida pútrida.
As lágrimas correram e a escuridão chegou. Não sentiu dor, não sentiu nada. Tinha acabado.

- Querem mais um? - Disse Pablo, estendendo novamente um maço de dinheiro para cada um dos guardas - Acho bom vocês saírem daí. Colem na outra porta, a reunião aqui acabou.

Pouco se importava com as câmeras, ou que fosse visto. As autoridades dependiam dele. Adentrou o carro e fechou os olhos. Lembrou-se dos olhos do Senador e, de relance, pensou ter visto a pequena Clara. A única pessoa que amou na vida, foi a que mais fez sofrer. Era por isso que matava, era por isso que não tinha medo. Estava apenas tentando devolver ao mundo a justiça que tirou de seu pequeno amor. Mais um telefonema, mais um trabalho.

domingo, 22 de maio de 2011

Mostre Teu Sorriso Para As Estrelas.

(Paulo Roberto)

Você sabe, isso é só pra ti.
Estou contigo.
Pra sempre.


~~~~~~

Oh, meu amor...
Eu sei o que está sentindo.
Não fique presa no escuro.
Estou aqui, vou te ajudar.

Se cair, eu serei teu colo.
O abraço e o teu manto.
O dia não foi bom,
Mas eu vou melhora-lo.

Não sou um herói.
Mas meu amor é tudo.
Estou pronto para enfrentar
O que vier e o que precisar.

Oh, agora... Deixe-me aquecer teu corpo.
Deixe-me sugar teu sofrimento.
Seque as lágrimas e grite.
Solte a dor, solte a dor...

Eu choro, penso.
Não posso ver teu rosto
quando teu sorriso não está brilhando.
Feche os olhos, me abrace.
Eu estou contigo.
Não estou em corpo, mas meu corpo te cerca.

Deite, ouça.
Estas são minhas palavras.
Olhe, sinta
O meu amor está te aquecendo.
Viva para os teus sonhos
Eu viverei para te ajudar.
Oh, Deus, eu preciso dizer...
Sabe que não vou te deixar.
Sempre serei o que tu precisar.

Sou teu em todos os momentos.
Estou contigo em todos os momentos.
Tua felicidade é o mais importante.
Eu contigo para o que precisar.
Mostre teu sorriso para as estrelas.

domingo, 15 de maio de 2011

04:44

(Paulo Roberto)

Apague as velas e feche as cortinas.
Feche os olhos.
...É bom vê-la de novo.
Esperei novamente por este abraço.
Deite aqui, meu amor, deixe-me percorrer tuas linhas,
Navegue pelo oceano turvo e profundo em meus olhos,
Saboreie minha carne em teu altar encantado.
Envolva minhas pernas em nosso leito avermelhado,
Minha saudade impregnada de canela.

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Meu perturbado sono em teu mundo perfumado.

Eu consigo sentir tuas unhas brincando em minhas costas,
Eu consigo sentir teus dentes puxando meu lábio.
A neve te prende, tua mente vaga.
O sol aquece meu corpo, a água envolve o sonhador.

Longas horas em que a mente voa para o mundo claro.
Infinitas as lágrimas que percorrem o trilho deixado pela saudade.
Minha sanidade drenada pelo tempo,
Minha esperança sempre viva em tuas mãos.
Dentro de ti, meu coração pulsa.
Dentro de mim o teu coração vive.
Eu vejo a areia correndo pelo vidro, os dias continuam longos.
Eu vejo o céu mudando e meus sentimentos crescendo.

Você está aqui. Quando o vento carrega teu cheiro,
Quando a lua reflete teu brilho,
Quando teus olhos me vem a mente.

Você sabe, meu amor... Sabe que estou contigo.
Sabe que vivo contigo,
Sabe que vou esperar, contando cada segundo, para poder te encontrar.

Eu sei... Sei que vive em meu peito.
Sei que está presente quando falo.
Sei que da cada passo comigo.
Sei que sorri comigo, que chora comigo,
Sei que se diverte comigo, sonha comigo.

Viva para vencer e viverei para te fazer feliz.
Não existe vitória maior que o teu sorriso.

Noite após noite, sorrisos e sorrisos...
Eu estarei aqui.
Nada é longe quando tua voz está em minha cabeça.
Tudo é próximo quando leio tuas palavras.

É só acreditar.

sábado, 30 de abril de 2011

O Canto Das Almas

(Paulo Roberto)

Eu cresci em teus campos banhados de azul,
Eu caí nas mentiras do teu pai.
Eu ouvi os teus contos e cantei tuas canções.
Eu sonhei, eu sonhei.

Eu socorri os teus feridos, costurei tua carne.
Eu caminhei entre mortos cegos.
Eu dormi com teu manto e acordei com o teu sangue.
Eu cantei, eu cantei.

Você sorriu e entregou as chaves para o servo,
Você pecou dentro da Santa Casa.
A cruz vermelha que carrega está pesada, nobre?
Dentro de mim todo o pão vira pó.
Olhe no espelho e veja o fim dos tempos em teus olhos.
Olhe no espelho e veja o rosto sem cor.
Você caiu nas graças do caído e lá no fundo
você sabe que teu futuro é a dor.

Eu aqueci teus pés imundos após a batalha,
Não recebi o perdão.
Você me deu um lindo sentimento, nobre e vão.
Você caiu sem poder o reflexo da besta refletido no chão.

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Correndo pelos vastos campos de neve,
Expelindo o prazer com os gritos.
Mais um sem vida, mais um pescoço.
Deixe-me misturar com teu sangue?
Corra, carneiro, meu Deus te criou.
Corra, carneiro, teu pai lhe negou.
Sinta a foice da morte rasgar
Veias, pele, o que mais encontrar.

Você ouve o canto dos pássaros voando?
Você ouve o sino do sono chegando?
Você bebe do aço que carrego em punho
e eu sirvo teu povo com muito prazer.

O canto das almas, o grito da dor.
A benção da chuva, teus lábios sem cor.

Eu acordei em teu leito, ex-virgem, devotada.
Você me deu teu corpo?
Sente a morte tocando teu seio?
Tuas pernas ficando mais quentes?
Corra, criada, eu te toquei.
Corra, criada, eu já desfrutei...
Sinta meus dentes em tua carne
Sinta meus dedos entre tuas pernas.

Você ouve o canto dos pássaros voando?
Você ouve o sino do prazer soando?
Você bebe meu corpo e aprecia a noite
Você pede a Deus mais uma noite em meu leito.

O canto das almas, pobre pecadora.
Dança do pecado, teus lábios sem cor.

Sol despertando entre o vale negro.
Corpos ao leste, General.
Use teus homens para conter
O avanço da tropa de Brehta.
Corra, carneiro, o tempo é vermelho.
Corra, carneiro, esqueça as preces.
Sinta as mãos de teu anjo me tocando,
Usando o corpo para agraciar.

Você ouve o canto das almas cantando?
Você ouve o sino do sono chegando?
Você bebe meu corpo e aprecia a noite
Você pede a Deus mais uma noite em meu leito.

O canto das almas, o grito da dor.
A benção da chuva, teus lábios sem cor.

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Eu cresci em teus campos sagrados.
Eu menti para o Pai.
Eu cantei a melodia das almas.
Eu dancei com a morte.

sábado, 23 de abril de 2011

1

Não importa onde, não me queixo do tempo.
Eu poderia estar perto, mas você nunca esteve longe.
...e tocar teu rosto, perder meus sentidos em teus olhos...
Sou teu, só teu, aqui, pra sempre.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Inflame

(Paulo Roberto)

As luzes estão vindo, são borrões de calor.
Não vejo o asfalto, é como um oceano sem cor.
Estou sorrindo, sorvendo a dor.
Correndo livre, ouço o vento começar a gritar,
Ele pede...

Ouça o motor, os pneus cantando.
Mais álcool caindo, você sente o cheiro do prazer.
Escuto o coração tamborilar pelo peito.
Tire a roupa, meu amor a noite vai ser boa.
Ah, vai...

Sorria, você pede que eu corra em vão.
Desfrute do pecado que tem nas mãos.

Abra a janela, deixe o cabelo voar.
Molhe os lábios, aqueça o meu motor.
Mais um gole, mais um sorriso.
Lubrifique meu câmbio mas não deixe-me soltar o volante,
De novo...

Sorria, você pede que eu corra em vão.
Desfrute do pecado que tem nas mãos.
Não deixe que nenhum pano cubra teu corpo.
Sorria...
Desfrute...

Ascenda as luzes, eu preciso brilhar.
Mais um gole de Gin, lamba o que está sobre mim.
Sentindo arrepios, te fazendo vibrar.
Não seja tímida, vá a 100km/h em dois segundos.
Oh, Deus...

Sorria.
Desfrute...

segunda-feira, 7 de março de 2011

Tão Confuso...

(Paulo Roberto)

Amarre o tempo.
Aprisione o vento.
Roube-me as dores.
Oh, dores...

Queime a comida.
Morda minhas feridas.
Lamba meus lábios.

Desenhe com agulhas.
Tempere-me com fagulhas.
Cole minhas pálpebras...
Cole...

Não posso ver teus pequenos olhos.
Você sorri mas não atrai.
Coma a maçã, meu amor.
Eu escrevo meu próprio obituário.

Rasteje pelas folhas.
Coma, beba, cuspa e dance.
Oh, uva doce...

Ruiva criada.
Arranque a carne que te aperta.
Morra cansada.
Tão frágil...

Assine no fim da página.
Corra para o portão.
Julgue-me.

Corte os pulsos e contemple
Tuas feridas para degustar...
Coma a maçã, meu amor.
Eu escrevo teu próprio obituário.

Use tuas mangas para estancar
Costure tua sorte.
Coma a maçã, meu amor.
Arranque os cabelos tão belos...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Entregue-se

(Paulo Roberto)

Feche os olhos, minha criança, ouça o que direi.

Sinta o vento frio relaxar teus ombros belos.
Deixe que a lua banhe teu rosto inundando o olhar que ostentas.
Sorria para mim,
Deixe que teu ar puro me traga o bem.

Oh, como queria poder abraça-la junto ao medo que sinto,
Inocência quebrada pelo desejo que cai sobre as costas.
Canção de ninar para o mundo revolto, meu coração fraco enquanto queima e grita.

Toque meu peito, escute o que corre,
Minhas veias tecem as palavras que escrevo agora.
Deixe que o vento lhe traga aromas,
Deixe meu perfume lhe tirar o sono.
Beije... Deixe as ondas marcarem o Ritmo.
Deixe a areia lhe tirar as forças.
Chuva que cobre a alma, Oh, Deus...
Segure-se em meu pequeno corpo.

Noite após noite, sonhos e mais sonhos,
Saudade pingando pelos olhos e correndo livre.
Apenas um garoto desejando ter
Apenas um sorriso desejando ver.
Beije... Deixe meu céu ser teu chão.
Deixe queimar o que deseja em vão.
Mostre-me o sabor do pecado.
Segure-se em meu corpo tão frágil...
Morda. Deixe o interior gritar.
Deixe teus poros exalarem o desejo.
Esqueça tudo o que passou.
Viva outra vez.
Queime comigo enquanto a noite respinga.
Sinta comigo o que a insanidade cria.
Cante para as estrelas que guiam, meus sonhos,
Morda-me outra vez...

Preencha lentamente as lacunas da voz,
Sugue com teus olhos tudo o que vive em mim.
Abrace-me e esqueça que tem um medo,
Crie outra face para poder crer.

Apenas deixe.
Deixe para o mundo o que ele precisa ter,
Deixe para a noite os aromas frios.
Deixe para um pobre sonhador que o desejo continue vivo
Em teus olhos quentes.

Fale. Diga tudo o que precisa dizer.
Eu já disse o que devia entender.
Entregue-se a carne que peca
Por desejos e sonhos.

...Deixe outra vez.
Morda novamente.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O Mesmo Velho Desejo.

(Paulo Roberto)

Lembra-se da fruta que caiu sozinha
Quando você correu para dentro da mata fosca?
Lembra-se do sabor que tinha a casca?
Doce como teu perfume roxo.

Lembra-se do Sol vermelho que invadia o céu perante as folhas
Enaltecendo o rubro de teus lábios secos?
Lembra-se do vento fraco trazendo a mim teus cabelos lisos?
Rindo, você correndo pelos campos maltratados
Dia claro como tua pele fria.
Minha memória processa imagens guardadas.
Dores constantes que estupram a alma.

Como faz falta o teu sorriso,
Como faz falta o teu toque...
Tuas unhas consumindo meu corpo e teus dentes usurpando sentimentos.
Como me fazem falta os sonhos que tinha antes de conhece-la.
Agora sonho com tua volta, sonho novamente com teu encontro.
Sonho com teu rosto corando, com teu abraço apertado.
Almejo um lugar a teu lado e um futuro inesperado.
Eu quero tê-la comigo. Eu preciso tê-la comigo.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Noite Do Caído

(Paulo Roberto)

Eu ouço as vozes dentro da minha mente.
Eu vejo as sombras pela janela quebrada.
Almas imortais dançando dentro de um corpo inocente.
Olhos vermelhos como a besta invocada.

A corda está quente e o nó apertado.
Os lábios secos e a pele queimada.
Suor escorrendo, corpo amarrado.
Pobre padre, pobre das chamas que o lambem.

Ritual maldito, dor latente.
Olhe para as chamas e ouça a pele ferver.
Feche os olhos e desenhe a cena.
Os gritos, os tambores, as músicas.

A carne está servida.
O jantar está delicioso.
As cinzas hoje são o tempero.
O vinho hoje não é o Sangre de Cristo.

Meu sangue.
Teu sangue.

Só a lua está branca esta noite.
Não posso ver além das capas.
Máscaras ridículas cujas feições são bestiais.
Asas agigantadas pelas sombras malditas.
Noite caida e regurgitada pelo demônio
Alma perdida e renegada nos campos.
Tambores rumbando como o coração do bode que comem.
Balaço certeiro na testa do espião.

Agora uma alma sozinha levita.
A marca ainda está na carne,
Lembranças ainda estão grudadas.
"Liberte-se e voe",
Sorria e morra de novo, amigo.

Só a lua está branca esta noite...
Só a lua está branca esta noite...
Noite caída e regurgitada pelo Demônio.
Tambores rumbando como o coração do bode que comem.