sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Pegadas na Relva

(Paulo Roberto)

Nos andamos nos jardins...
Em meio a corpos de soldados da luz...
Em meio a covas que eu mesmo cavei,
Cruzes que eu mesmo preguei.
Sentindo o cheiro da perda da inocência...
Das pernas tocadas por tulipas.
Orquídeas envolvendo teu corpo,
Num laço profundo, sem nós agudos...
Cachoeira azul que escorre do céu.
Apenas o véu branco cobrindo a carne...
Seu banho entre pedras,
Seu perfume em rosas...
As pegadas na relva,
O frio no ar...
Os pecados entrelaçados,
Com o prazer e a dor...

A honra não existe mais.
A água cobre seu corpo pálido,
sem sangue nas veias.

O vinho que o demônio degusta tem teu gosto.
Suco exalado de tuas veias mais roxas...
Asas de Ícaro costuradas com caule de rosas brancas...
O polem caindo, o mel derramado, adocicando tua carne bífida e sem sabor.

Mas eu rezarei por você...
Pedirei que Deus te poupe.
Você merece queimar no inferno,
Mas eu preciso estar lá primeiro.

Ventre volumoso,
Perdição grudada nas paredes de teu leito.
Tua cama fria,
Orla sem pássaros, sem pedras ou sal...
Mar sem sereia,
O chamado foi ribombado.
Jardins sem flores,
Sem duendes de gesso,
Sem arvores ou balanço.
Coração sem artéria.
Oceano sem escuridão.
Filho sem pai.

Eu vou viver de novo...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Eu Caminho Perto De Ti...

(Paulo Roberto/Maiara Bonfim)

Você corre, mas por que está com medo?
O demonio te espera na próxima curva, Maria sem honra.
Pise fundo, estou seguindo você.
Abaixe o vidro, sinta meu cheiro antes de morrer.

Seu destino está ali do lado...
Seus olhos desesperados me enchem de orgulho.
Meu ego só aumenta com teus gritos.
Suplique piedade...

O cheiro de teus pneus gritando no asfalto ascende meu fogo.
O gosto das lágrimas pulverizando meus sonhos.
A dor de tua alma sorrindo para mim.
O calor da terra está perto do fim.

Corra!
Pise fundo, siga reto...
Corra!
Vire a esquerda, próxima a morrer...
Corra!
Pise fundo, siga reto...
Sem mais...
Vá com calma, bata na porta...

Meio anjo, demonio... vou seguindo o teu caminho.
Você é mais um dos meu brinquedos, vadia...
Chore, reze para o criador... Pena de tua alma, compaixão de tua dor.

Reze para o que tu acredita.
Peça para o que tu acredita.
Teus ultimos momentos serão prazerosos...
Me sente dentro de ti?

Janela aberta, vadia...
Som cuspido no talo.
Tuas pernas dançando no ar...
Pneus na estrada, vamos brincar...

Corra!
Pise fundo, siga reto...
Corra!
Vire a esquerda, próxima a morrer...
Corra!
Pise fundo, siga reto...
Sem mais...
Vá com calma, bata na porta...

5ª marcha, querida, não tenha medo.
Apenas escute o barulho e sinta o ronco.
Motor velho e cansado, luzes azuis e vermelhas para te carregarem ao inferno...
Feche os olhos e sirva-se da saliva do cão de três cabeças...

domingo, 11 de outubro de 2009

IV

(Paulo Roberto)

Eu nunca vou poder saber o que você pintava,
Você me privou de tua arte.
Oh, criança, por que me atormenta?
Eu estava apenas sonhando...

Teus olhinhos verdes piscando devagar
Teu sorriso inocente dando vida as sombras...
Teus cabelos claros imóveis nas costas,
Teu vestido pesado dando beleza a tua figura encantadora...
Giz verde deslizando pelo papel,
Giz azul da mão esquerda inerte.
Sala escura e fétida, mas você não ligava,
O que será que você queria me dizer?

Peço que não volte, será melhor assim,
Eu tive medo do fim disso tudo.
Porque morreu sem me dizer? Oh Deus...
Tuas veias estavam roxas, teus olhos eram cinza...
Não gritou, não chorou... apenas me olhou.
Oh, teus fios dourados varreram o chão.
Me deixe dormir está noite.
Oh, Deus...
Leve outra alma.

sábado, 10 de outubro de 2009

Apenas morda

(Paulo Roberto)

Abaixe tuas mãos e morda minha jugular.
Tuas mãos estão quentes, puta...
Eu paguei por isso?
Oh, vá com vontade.
Tua vaidade não combina com teu cheiro...

Eu paguei para te ver queimar.
Te ver pular, gritar e te dominar.
Seja selvagem...

Arranque esse vestido estampado.
Ele não combina contigo...
Solte teu cabelo e descubra as pernas.
Você não tem cara de criança.
Essa tinta barata te deixa com cara de vaca.

Não tire o salto, pise em minhas costas.
Oh, teu sorriso é belo, mas teus lábios estão secos.
Maquiagem borrada... eu fiz isso?

Você é como um gato num galinheiro.
Ja pedi para tirar o vestido?
Convide-me para uma dança...
Esfregue-se em meu corpo.
Lamba meu eu.
Acabe com um beijo.

Grite, meus dedos estão onde devem estar...
Sorria, tua lingua está onde deve estar.
Pule... meus olhos estão como devem estar.
... Apenas morda...

Procure... você encontrou algo?
Eu estou esperando tua chama.
Engula tua frescura e convide-me para o fim do mundo.
Eu sei que pode faze-lo.
Oh, cadela inútil...
Quanto vale tua noite?

Arraste tuas meias até o fim dos teus pés.
Esmalte vermelho sem brilho e descascando.
Unhas do polegar quebrada... Oh, isso não vale tanto.

Por que está ai, parada como uma cortina?
Eu não quero uma TV, eu quero teu corpo!


Você é como um gato num galinheiro.
Ja pedi para tirar o vestido?
Convide-me para uma dança...
Esfregue-se em meu corpo.
Lamba meu eu.
Acabe com um beijo.

Grite, meus dedos estão onde devem estar...
Sorria, tua lingua está onde deve estar.
Pule... meus olhos estão como devem estar.
... Apenas morda...

Oh, eu gosto da maneira como eu te faço gritar.
Eu gosto da maneira como você dança, vaca...
Eu gosto de cheiro que emana dos poros.
Eu gosto de pagar para você me morder...

Você é como um gato num galinheiro.
Ja pedi para tirar o vestido?
Convide-me para uma dança...
Esfregue-se em meu corpo.
Lamba meu eu.
Acabe com um beijo.

Grite, meus dedos estão onde devem estar...
Sorria, tua lingua está onde deve estar.
Pule... meus olhos estão como devem estar.
... Apenas morda...