sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Velejador do Tempo


(Paulo Roberto)

Aqui estou eu para outra viagem insana pelo mundo das almas.
A luz difusa das velas acariciando meu corpo enquanto a mente está fora do mundo que conhecemos.
Um livro aberto sobre a mesa e uma taça com vinho tinto em minhas mãos frias.
A caneta está sobre o papel amarelado e a voz começa a me perguntar se estou preparado para a jornada encantada.

Consentindo calado, murmuro a palavra da perdição.
As cores estão chegando, o sol está reinando.
Eu vejo a areia, a dor e escravidão.

Pedras empilhadas, o lar do faraó é erguido.
Eu sou o nobre senhor que domina tuas ervas.
Sou o nobre soldado amante da medicina.
Você reina por tantos dias e tantas noites...
Você comanda tantos corpos... mas tão poucas almas...
Os anos estão se passando e a areia está tão fina quanto tua linha da vida.

Você está doente. Pálido como a lua e quente como os lábios da besta.
Está deitado em teu leito luxuoso, cercado de moças vestidas de branco,
Maçãs sob teus pés e a luz do sol sobre tua testa.
Você acredita na vida eterna. Você acredita em cachoeiras e grama verde.
Você canta para o Deus do Sol e sorri para a luz que lhe guia.
Eu estou fechando teus olhos, secando tua testa.
Eu posso ouvir o som das vespas devorando tua carne.
Eu posso ouvir o grito sem fim de teus ossos silenciados pelo tempo.
Vejo teu corpo mumificado envolto em ouro sendo guardado para a eternidade.
Ouço o suspiro da aura. Ouço o choro da criação. 
Viajo pelos mares de tuas lembranças e me alimento de teus pecados acompanhados de um pedido de perdão.
Volto para escrever nestas páginas vazias a odisséia de um tempo em que minha maior riqueza era ter tua admiração.