segunda-feira, 27 de junho de 2011

Espelho

(Paulo Roberto)

Seu cálice cheio sobre a cômoda...
Você tira meu vestido com zelo e desejo.
Toca minha carne, inala meu perfume.
Acaricia minha face delicada,
A cor dos meus olhos te derruba.
Meu sorriso acelera teu coração enquanto minhas mãos te arrepiam.
Meus sussurros te fascinam e meus lábios te aquecem.
Posso prendê-lo com os olhos nessa cama toda a noite.

Você sente algo louco e fixo por minhas pernas,
Eu brinco com teus lábios enquanto você fantasia com meu corpo.
Tuas mãos sempre procuram o que o desejo assopra nos ouvidos,
Tua mente, louca mente, sempre cria quando te toco.

Eu sei que sente meu cheiro quando acorda.
Sei que deseja meu calor quando o frio te corta os sonhos,
Sei que sonha com o futuro, com um pequeno número ímpar.
Sei que fará tudo para que nossos dias sejam únicos.

Você não esquece da minha voz e repete mentalmente:
"Tudo o que eu preciso é ter você comigo."
Meu abraço é teu bem mais valioso,
Meu amor é como um filho que carregas dentro do peito.

Sei que me ama e que nada te fará mudar,
Sei que acredita no futuro, sei que não vai hesitar.
Sentirás saudades de sorrir bobamente todas as noites...
...Mas sei que estará lá quando eu finalmente puder voltar.

domingo, 26 de junho de 2011

Carne Para A Rainha

Já tocou mais alto para não ouvir o que teu coração dizia?
Tente colocar os fones agora, você não quer ouvir teus gritos.
Minha música é tão doce e teu olhar é tão vazio...
Não precisa procurar, docinho, não existe ninguém além de mim.

Deixe-me lamber tua orelha e sangrar teu peito pardo?
Meu cabelo irá te sufocar até que o manto te carregue.
Peça para o pai, o cão ou para que alguma alma te ajude,
Você vai precisar de um novo corpo, esse é meu retalho.

Brinque com teus medos,
Sorria com a dor.
Continue mentindo enquanto masturbo tua memória.
Ora, meu amigo, não era melhor que eu?
Deixe que teu sangue lave o corpo que já morreu.

Veia-por-veia, músculo-por-músculo e ainda é tão macio!
Não posso parar até que possa ver a luz do outro lado.
Não grite, amor. Ouça minha música tocar mais alto.
Você escreveu a melodia enquanto eu estava no teu colo.

Por que está tão calado e com o olhar tão fixo?
Já está vagando solto pelos mares do demônio?
Ainda tem tanta carne! você não sabe mesmo brincar...
Vou arrancar tuas coxas para ter algo no jantar.

Diga para tua mãe que eu mandei um "Oi".
Pergunte ao seu pai se ele se lembra do meu cheiro...
Não minta no inferno, eles não irão te perdoar.
Não serão só facadas, a eternidade irá te castigar.

sábado, 11 de junho de 2011

O Fardo

Silêncio. Pablo não conseguia dormir. Lembrou-se dos olhos de sua ultima vítima. O "pobre" Damião tinha agora uma bala no meio da testa fofa. Era isso que fazia. Matava quem matava, matava quem roubava e matará quem merecer a morte. Levantou-se, a sede e o calor estavam judiando do corpo forte. Tinha músculos avantajados e um ar poderoso. Assustava muita gente com o olhar. Era famoso. Todos sabiam que ele existia, todos os que tinham alguma dívida o temiam, todos os que deviam pagavam em suas mãos. Sempre pareceu forte, mas a verdade é que sempre foi o mais frágil e fraco dos homens. O passado sempre lhe assombrou. Estava zonzo com os pensamentos. O celular tocou. Seguiu calmamente até o quarto. Olhou a pequena tela e...
- Raul?
- Sim, meu rapaz. Lembra do Senador?
- Ah, claro...
- Sabe onde ele está, não sabe?
- Não tenho ideia, na verdade.
- Bem perto de ti. Uma das empresas dele está num negócio milionário. Foi pessoalmente ver como estão as coisas.
- Acho que ele vai ficar por aqui então.
- De fato... Por isso resolvi ligar tão cedo.
- Cedo? - Sorri - Eu cheguei a pouco. Lembra do Damião? Já foi.
- Grande notícia! Menos um para correr atrás. O governo pressiona a Polícia mas não faz nada pra ajudar. Muito bem, meu rapaz. Continue assim e não teremos motivo para prendê-lo. Afinal de contas... você tem cooperado muito.
- A ideia de visitar a cadeia não me agrada, Coronel.
- Sim, sim. Sabemos disso. Portanto, dê um jeito no Senador e ficaremos felizes. Ah, você também ficará quando olhar sua conta bancária!
- Onde acho o safado?
- A empresa está negociando com um shopping da Zona Sul. Eles marcaram uma reunião no Hilton. Aquele perto da...
- Sei onde é. Isso é tudo?
- Sim. Arranque a cabeça dele.
- Boa noite, Coronel.

Silêncio novamente. Olhou o relógio, 05:23. Puxou a cortina e viu o céu escuro. O frio era intenso. Sentiu um arrepio quando abriu a janela para respirar o ar do dia. Segunda-feira. Passou todo o domingo dormindo. Sabia que tinha uma cabeça para explodir durante a noite.
Dessa vez seria diferente. Não teria descanso. O fato é que a polícia precisava se livrar do tal Senador. Ele sabia de muita coisa, tinha muitos nomes e até Raul ficava de quatro na frente do velho para que ele não revelasse os crimes do Coronel. Fora que lavar dinheiro era seu esporte favorito. Dessa vez, deveria ter cautela. É bem diferente matar um traficante que comanda algumas bocas e matar um cara que todo mundo sabe quem é. Bem... Era, na cabeça dele. Lembrou-se da primeira vez que matou. Por isso estava naquela vida. Sentou-se no chão e deixou que as lágrimas pintassem o rosto com o líquido transparente que lhe vazava pelos olhos. Não tinha medo de matar. Tinha medo de morrer. Viu o reflexo no espelho e sorriu. Sempre chorou mais do que deveria... O cabelo estava bagunçado, mas parecia bem. Puxou a toalha da cadeira e correu para o banho.

O Céu estava claro e, acredite, a Marginal livre. Os falantes cuspiam Deep Purple num volume considerável. O sol resolveu aparecer por entre as nuvens, mas o frio ainda castigava. Sorriu quando viu a Otávio Frias. Estava perto. Não seria fácil matar um senador, a comitiva do safado tinha mais gente do que tem agora no puteiro em que a mãe dele trabalhou. Viu dois carros com os vidros totalmente escuros aparecerem na esquina. Era a deixa. Era ele.
Adentrou o hotel e pegou um copinho d'água. Mataria sem pena, seria justo. Olhou para a moça atrás do balcão. Uma linda loira com um uniforme infeliz, escondendo todas as curvas. Pena. Mataria qualquer um, desde que a recompensa fosse a cama dela. Tirou a pistola do coldre e olhou para os lindos olhos azuis da moça. Sorriu e seguiu para o salão de convenções. Tinha um trabalho a fazer. Dois guardas estavam na porta, mas sabia como resolver. Tirou dois maços com notas e notas do bolso.
- Hey, um pra cada um! Só preciso entrar...

Dois armários de preto, sorrindo... Não é uma cena muito comum. Entrou tranquilamente e sentou-se na cadeira da ponta. Os homens não entenderam nada. "Quem é esse cara?"
- Senhores, o Senador pediu para que a reunião aconteça na sala ao lado. Parece que o projetor desta está quebrado...

Os homens se entreolharam e aquiesceram. Um a um, saíram da sala. Pablo se sentou na cadeira da ponta, de frente para a porta e esperou. Depois de alguns minutos, um estralo. A porta. Lá estava ele, junto ao advogado. Não exitou. O primeiro já estava no chão.
- Opa, Opa! Pode ficar quietinho ai, meu amigo -Disse apontando a arma para a careca da futura vítima.
- O que é isso? Você...?
- Sim. Sim, eu sei. E é exatamente por saber que eu estou aqui. Lembra do Coronel Raul? Ele me mandou aqui. Você sabe o que fez, você sabe o que vim fazer. Algum pedido?
- Do que porra você está falando, cidadão?
- Oh, isso não é pose de Senador. Eu mato para viver e você rouba por pura luxúria. Eu mato para comer e você come com a porra do meu dinheiro. Eu vivo para matar e você vive para sangrar corações de pessoas que venderiam a alma por um lugar ao sol. Olhe em meus olhos, Caro Amigo. Será a ultima visão de tua vida pútrida.
As lágrimas correram e a escuridão chegou. Não sentiu dor, não sentiu nada. Tinha acabado.

- Querem mais um? - Disse Pablo, estendendo novamente um maço de dinheiro para cada um dos guardas - Acho bom vocês saírem daí. Colem na outra porta, a reunião aqui acabou.

Pouco se importava com as câmeras, ou que fosse visto. As autoridades dependiam dele. Adentrou o carro e fechou os olhos. Lembrou-se dos olhos do Senador e, de relance, pensou ter visto a pequena Clara. A única pessoa que amou na vida, foi a que mais fez sofrer. Era por isso que matava, era por isso que não tinha medo. Estava apenas tentando devolver ao mundo a justiça que tirou de seu pequeno amor. Mais um telefonema, mais um trabalho.