segunda-feira, 30 de abril de 2012

Aconhegue-se.

(Paulo Roberto)

Eu era um anjo até que a noite trouxe um véu azulado com cheiro de rosas brancas.
Eu aprendi a tocar a nota do pecado, eu aprendi a escala do prazer.

O som das ondas era agudo como a agulha que custurou meus fios de cabelo.
As folhas eram secas como as mãos dos que trabalharam sobre este solo cheio de espinhos.
As pétalas sem vida não brilhavam mais.

Além do monte existe o sol, o céu e o mar revolto.
As garças cantam dançando no escuro.
Meu ninho é quente, mãe dengosa, entre e aconchegue-se.
O vento não merece lhe tocar.
Esconda-se e perca-se em meu torso para que sonhe com os lábios do dia,
Para sonhar com a sonata infernal que minhas cordas lhe doam,
Meu coração te aquece enquanto a vida começa a se apagar.

Chore, o escuro está te engolindo.
A vida escorre e você conta até três.
Sorrindo você deixa meu corpo em cima das pedras
E carrega minha alma vazia para o inferno.


domingo, 1 de abril de 2012

Voa

(Paulo Roberto)

Você bateu as asas,
Voou para longe.
Lágrimas encheram meus olhos.
Você tocou meu ombro e disse que era hora.
Não havia nada mais a fazer.

Você me olhou de cima,
Sorriu para o sol.
Finalmente estava livre.
Você pensou nos momentos, suspirou sem medo.
Nada mais estava a sua frente.

Eu caí de joelhos,
A cruz colada em meu punho...
Teu nome em minha nuca.
Você gritou para a libertade e eu senti a foice gelada.
Quantas mais orações eu preciso fazer?

Faça-me perdoar todas as vezes em que você saiu pela noite sem dizer onde estaria.
Faça-me perdoar, mas por favor, não volte.
...Amarrou-me com teus cabelos e rasgou minha vida com os dentes.

Você teve nas mãos o cálice de sangue.
Gole d'ouro adocicado.
Corri para as correntes quentes do inferno.
Tuas asas já estavam no chão.

Preciso voltar a voar pela noite, correndo pela areia, sorrindo para as flores.
Faça-me perdoar, mas por favor, não volte.
...Amarrou-me e sugou todo o sentido de viver.

Peque, Santo.
Santifique o pecador.