sexta-feira, 17 de setembro de 2010

(Paulo Roberto)

A areia está caindo devagar e preguiçosa,
Teus dedos estão cortados e o pús está cospindo.
Chamas estão lambendo tuas dores e pecados.
Meus dias são contados, minhas preces são contidas.

Você jogou minhas cinzas do alto.
Misturei-me ao som da arrebentação.
A água turva molhando cada grão
Do corpo magro de um pobre ferreiro.

Eu vivi no purgatório para apaziguar o caos.
Minha alma não tem feridas nas mãos,
Sangue no coração...
Eu cai nas graças dele, eu estou dentro dos portões.

Agora eu tenho asas.
Posso proteger quem precisa,
Amar que deve ser amado.
Agora evito as armas que eu mesmo fiz
Quando era composto de carne e dor.

Agora a guerra é passado,
O sol brilha em minhas mãos macias.
Tenho teu amor, tua carne fria,
Não tenho mais dor,
Sou pó, sou anjo, não peco, apenas sonho.