domingo, 30 de maio de 2010

Sangue na Boca.

(Paulo Roberto)

Está tudo tão quieto e tão escuro.
Você gritou comigo e tirou minha roupa.
Abusou das minhas curvas e lambeu minha essência.
Puxou meus cabelos, rasgou meu vestido.
Manchou meu colchão com tua seiva pútrida.
Rasgou meu rosto com teu relógio de ouro roubado.

Você deixou apenas uma mão marcada e dedos finos pintados.
Teve visões com meus olhos.
Tocou minhas cortinas quando o céu ainda estava negro.
Você abriu as portas do prazer pra ti
& revelou o mundo da desgraça para mim.

Oh como eu queria teu pescoço...
Uma faca prateada em tua carne branca.
Teus fios loiros rolando pelo chão.
Teu sorriso ridículo paralisado com sangue na boca.

A marca cinza de teu sapato está no tapete.
O cheiro de teu suor está em toda parte.
Os cacos de vidro estão dormindo sobre o piso.
A dor pulsa, a cabeça tomba.
Você ainda corre, você ainda está correndo...

Não, não... Volte.
Eu preciso agora ter teu sorriso de novo.
Quebrar teus dentes com meu salto, delícia...
Usar minhas unhas para arrancar teus olhos.
Usar meus dentes para maltratar o que te santificou.
Lamber tuas feridas e apertar o que ficou...

Oh como eu queria teu pescoço...
Uma faca prateada em tua carne branca.
Teus fios loiros rolando pelo chão.
Teu sorriso ridículo paralisado com sangue na boca.

Meus lábios estão sangrando...
...Esse sangue não vem de dentro.

Tem um cigarro ainda?
Pegue um fósforo e risque.
Queime com a chama... Continue queimando com a chama.
Você ouvirá meu chamado.
Eu te farei parar.
Eu farei por mim mesmo.
Não me faça gritar...
Dance com a lâmina...
Deixe-me livre.
Eu estuprarei tua mente até que teus sonhos estejam molhados.
Eu serei teu reflexo. Eu serei essa voz. Eu serei os sussurros.
Eu serei teu tato.
Você queria meu seio. Você teve meu seio...
Você queria minhas pernas. Oh, sim, elas foram tuas.
Você queria minha vida, Oh, padre, você tomou pra si.

Eu quero tua loucura.
E mesmo daqui, te farei entrar nessa cela.
Te farei gostar dessa espuma.
Te farei sentir confortável com esse trapo.

Oh como eu queria teu pescoço...
Uma faca prateada em tua carne branca.
Teus fios loiros rolando pelo chão.
Teu sorriso ridículo paralisado com sangue na boca.

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